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Como a escola pode estimular a criatividade de forma eficaz?

A criatividade deve ser ensinada e estimulada desde os primeiros anos de vida. Professores têm papel fundamental nesse estímulo

O último PISA (Programa Internacional para Avaliação de Estudantes) dedicou um volume inteiro de seus resultados para observar os níveis de criatividade entre estudantes. A avaliação, que conta com a participação de jovens de 15 anos, apontou que o Brasil não vai muito bem nessa área, ocupando o 49º lugar e abaixo da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). 

Ao mesmo tempo em que a criatividade não deve se restringir a esse lugar mitológico de que só pessoas geniais a possuem, há espaço, sobretudo na escola, para que crianças e adolescentes a desenvolvam de maneira profunda e significativa. É o que diz Thais Eastwood Vaine, coordenadora de Formação e Inovação Pedagógica no Instituto Escolas Criativas. 

A criatividade será um dos temas abordados no Festival Encontro com o Porvir, que acontecerá no próximo dia 21 de junho, na Fecap, em São Paulo. A atividade será dirigida pela equipe do Escolas Criativas. Inscreva-se no evento gratuitamente clicando aqui. 

Em entrevista ao Porvir, a educadora lembra que as crianças são consideradas mais criativas porque têm menos medo de errar. À medida em que vão crescendo, essa percepção sobre o erro tende a impactar formas de expressão mais livres e inventivas.. Contudo, quanto mais velhas as pessoas vão ficando, mais repertório têm, o que é fundamental para o exercício da imaginação e da liberdade.

“Eu vejo a criatividade como uma mistura de disposição para se arriscar e repertório. Por que achamos  que nós, adultos, não somos tão criativos? Porque fomos condicionados ao longo da nossa vida a ter medo de errar”, diz a educadora. É justamente ao amadurecer que residem as chances de a criatividade se expandir, fruto das vivências, aprendizados, leituras e toda a bagagem cultural e artística adquirida durante a vida.

Após quatro anos, o Escolas Criativas passou a se chamar Instituto, em mudança oficializada no dia 29 de maio. A iniciativa segue com o objetivo de apoiar a transformação de escolas públicas em ambientes mais atrativos para os estudantes.

No livro “Jardim de infância ao longo da vida”, o professor Mitchel Resnick, do MIT Media Lab (Laboratório nos Estados Unidos vinculado ao Massachusetts Institute of Technology),  aponta que a chave não é necessariamente em “como” ensinar criatividade para as crianças, mas produzir um ambiente que favoreça sua manifestação. 

Nesse sentido, Thais destaca que o estímulo à criatividade está na criação de um ambiente onde as crianças se sintam seguras, acolhidas, ouvidas e que tenham contato umas com as outras. Ou seja: essa poderia ser a descrição de um espaço escolar. 

O papel do professor no estímulo à criatividade

Para desenvolver projetos criativos em sala de aula, os professores devem ter essa habilidade dentro de si, para promover aulas que inspirem seus alunos. Sem essa dimensão, o trabalho fica mais difícil, aponta a especialista. Thais também ressalta que há, para os educadores, a mesma lógica de se arriscar e criar seus próprios repertórios a fim de potencializar a criatividade. 

“É muito importante que o educador também tenha experiências ao longo da sua formação com esse tipo de atmosfera de aprendizado, que ele tem oportunidade de testar projetos, de experimentar o que ele está planejando, porque nesses testes, nessas trocas, ele entende quais são as adaptações necessárias”, diz. 

Incutir criatividade na prática docente é algo que leva tempo. Não são só os estudantes que têm certas dificuldades em inovar, e isso também precisa ser levado em consideração. 

“A transformação da prática docente não acontece a partir apenas de uma palestra, de uma ação de sensibilização ou de uma oficina. Essas ações contribuem, sim, e têm o seu valor e para formação, mas é importante que seja um processo contínuo de ajustes”, detalha. 

O envolvimento do docente, apropriando a criatividade na sua própria prática, pode também ser uma maneira de despertar novas paixões nos estudantes. 

Aprender criativamente

A Aprendizagem Criativa, abordagem criada por Mitchel Resnick com base em ideias do construcionismo, é uma proposta que pode ser inserida na sala de aula para valorizar a criatividade dos estudantes. Ela propõe que sejam criados ambientes educacionais mais lúdicos e relevantes. 

Centrada nos chamados “4 Ps”, que correspondem a: Projetos, Paixão, Pares e Pensar brincando, a abordagem propõe que as pessoas aprendem melhor quando têm oportunidade de desenvolver algo que seja significativo (pode ser um poema, um programa de computador ou até mesmo um item tecnológico), além de uma troca entre pares de maneira mais livre.

Essa postura, principalmente em relação ao compartilhamento, é apontada por Thais como algo de grande valia para os educadores. “Às vezes, o professor pode se sentir muito solitário dentro do seu contexto profissional para inovar, para fazer diferente. Incentivamos ele a encontrar outros professores”, comenta. 

Criatividade se ensina (e se aprende) com colaboração

Há também uma dimensão da criatividade que diz respeito a conquistar a atenção do estudante. Thais aponta que muitas vezes o aluno está na sala olhando pela janela, porque o que vê do lado de fora da sala de aula é mais interessante do que aquilo que está sendo apresentado pelo docente. Nesse sentido, o trabalho do professor é também tornar a aula mais interessante do que ver os carros passarem na rua.  

“A pergunta que nós, educadores, carregamos no bolso é: como tornar a sala de aula interessante a ponto de o estudante querer de fato estar ali?”, diz Thais. “Boas perguntas e bons projetos são um caminho para isso. Mas não é algo simples e por isso é importante que haja uma troca entre professores, porque às vezes é difícil encontrar um tema ou saber como engajar o aluno”, complementa. 

Como estratégia, ela propõe que o professor realize uma escuta atenta com o estudante, para compreender o que é significativo e importante para ele, ao mesmo tempo em que desempenha seu papel de ampliar o repertório, despertando interesses sobre assuntos que ele ainda não conhece. 

A criatividade será um dos temas abordados no Festival Encontro com o Porvir, que acontecerá no próximo dia 21 de junho, na Fecap, em São Paulo. A atividade será dirigida pela equipe do Escolas Criativas. Inscreva-se no evento gratuitamente clicando aqui. 

Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira

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