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Por que os alunos não pedem ajuda – e como mudar isso

Três mudanças simples podem transformar a sala de aula em um espaço onde pedir ajuda é natural e fortalece a confiança dos estudantes

Na minha sala de aula, eu via isso o tempo todo: estudantes que precisavam de ajuda, mas não pediam. Alguns ficavam encarando a tarefa, esperando que a resposta surgisse como um estalo de clareza. Outros batucavam o lápis na mesa, esperando alguém quebrar o silêncio. Uns poucos evitavam a atividade completamente, convencidos de que se virar sozinhos era melhor do que ser “aquele aluno” que pede ajuda.  

Mas algo mudou.  

Com alguns ajustes intencionais na dinâmica da sala, vi os alunos passarem da frustração silenciosa para a busca ativa por apoio. O problema não era a capacidade deles. Nem mesmo a falta de motivação. A verdadeira barreira? As normas sociais.  

Para muitos estudantes, pedir ajuda soa como admitir a derrota. Eles foram condicionados – pela experiência, pelos colegas, por uma cultura obcecada com sucesso sem esforço – a acreditar que precisar de ajuda significa que não são bons o suficiente. Mas uma série de pesquisas apontam o seguinte: as pessoas mais bem-sucedidas não fazem tudo sozinhas. Atletas de elite têm técnicos. Grandes escritores têm editores. Inovadores e líderes se cercam de mentores e colaboradores.  

Então, como reescrever esse roteiro? Como fazer com que pedir ajuda não só seja aceitável, mas esperado? Estudos apontam três estratégias eficazes: modelagem, estrutura e comunicação.  

1. Modelagem: dar o exemplo  

Somos seres sociais, programados para seguir os sinais ao nosso redor. Se os alunos não veem os colegas pedindo ajuda, assumem que é algo que simplesmente não se faz. Mas, quando o pedido de ajuda se torna visível, passa a parecer natural.  

Imagine um estudo que mostrou que as pessoas têm 270% mais chances de jogar lixo em um estacionamento bagunçado do que em um limpo. Não porque queriam sujar, mas porque o ambiente sinalizava que aquilo era normal. O mesmo vale para o aprendizado: se ninguém pede ajuda, os alunos assumem que não é “o que gente como eles faz”.  

Para quebrar esse ciclo, uso “Paredes Vivas” – quadros na sala onde os alunos colam post-its com dúvidas, estratégias e reflexões. No início, hesitam. Mas, assim que um aluno dá o primeiro passo, os outros seguem. Ver um colega admitir dificuldade e receber apoio faz com que pedir ajuda pareça uma experiência compartilhada, e não um risco isolado.  

Outra estratégia que normaliza o pedido de ajuda é o “Speed Dating de Resolução de Problemas” (em tradução livre, “Rodadas Rápidas de Resolução de Problemas”). Nessa atividade, os alunos trocam de lugar em discussões rápidas, enfrentando desafios em voz alta. Em minutos, pedir ajuda deixa de ser uma luta solitária – torna-se parte do processo de aprendizagem.  

O segredo aqui é: se queremos que os alunos peçam ajuda, não basta dizer. Eles precisam ver isso na prática.  

2. Estrutura: projetar para a colaboração  

O design de um espaço (planejamento intencional de ambientes para torná-los funcionais, acolhedores e adequados ao uso das pessoas) ressalta comportamentos – muitas vezes sem que percebamos. Fileiras retas de carteiras sinalizam isolamento, enquanto mesas redondas convidam à conversa. Da mesma forma, integrar o pedido de ajuda às rotinas da sala pode transformar uma cultura de luta silenciosa em uma de colaboração ativa.  

Por exemplo, um estudo mostrou que hóspedes de hotel tinham 19% mais chances de reutilizar toalhas quando ouviam que a maioria dos outros fazia o mesmo. O comportamento em si não mudou, só a forma como foi apresentado. O mesmo vale para o aprendizado: quando pedir ajuda é a norma, os alunos adotam naturalmente.  

Espaços de apoio liderados por alunos podem reforçar essa mentalidade. Eles se revezam como “especialistas do plantão de dúvidas”, mudando o papel do professor de único solucionador para facilitador. Em vez de esperar pela ajuda, os estudantes assumem a responsabilidade, apoiando uns aos outros e fortalecendo suas próprias habilidades.  

Para implementar:  

  • Selecione alunos por aula ou unidade para serem os especialistas, garantindo que dominem o conteúdo.  
  • Forme-os para guiar os colegas com perguntas orientadoras e forneça recursos como mapas de conteúdo e quadros de aprendizagem.  
  • Crie um espaço físico para o plantão de dúvidas ou use crachás para identificar os especialistas.  

Estabeleça a regra “Pergunte a três antes de mim”, nas quais os alunos buscam ajuda em três colegas antes de recorrer ao professor. Isso promove independência e colaboração.

Peça feedback (retorno avaliativo) para ajustar o sistema e celebre os especialistas com pequenos incentivos. Com o tempo, a sala de aula deixa de ser centrada no professor e passa a ser impulsionada pelos alunos, reforçando a responsabilidade compartilhada pelo aprendizado.  

Quando pedir ajuda se torna uma expectativa, e não uma exceção, os alunos deixam de hesitar e abraçam a colaboração como norma.  

3. Comunicação: mudando a narrativa sobre pedir ajuda  

O maior motivo pelo qual os alunos não pedem ajuda não é falta de capacidade, é a percepção que têm disso. Muitos veem como sinal de fraqueza, e não como estratégia para o sucesso. Mas a forma como falamos sobre isso muda tudo.  

Pesquisas mostram que alunos com alta autoeficácia (aqueles que acreditam que o esforço leva à melhoria)  são muito mais propensos a buscar ajuda. O problema? Muitos não se veem como capazes de melhorar.  

Uma forma de mudar isso é compartilhar histórias reais de superação. Convido ex-alunos para falar sobre como enfrentaram dificuldades e venceram ao buscar apoio. Eles gravam ou escrevem esses depoimentos e eu mantenho uma pasta chamada “Por que pedir ajuda importa” com esses registros. Sempre compartilho esses relatos com a turma. Quando ouvem: “Tirei nota baixa na primeira redação, mas, depois de trabalhar com um tutor, tirei um 10 na seguinte”, a visão deles sobre quem pede ajuda se transforma.  

Outra ferramenta poderosa é o “O que ainda não entendi – bilhete de saída”. No fim da aula, os alunos escrevem uma pergunta ou conceito que ainda não entenderam. Deixo claro que suas dúvidas me tornam um professor melhor e ajudam a moldar a próxima aula. Recolho as respostas, identifico temas comuns e crio estações de trabalho ou materiais que abordam diretamente suas necessidades. O mais importante: mostro que a curiosidade e as perguntas deles guiam nosso processo. Ao valorizar abertamente suas contribuições, reforço que buscar ajuda não é só útil: é essencial para crescer.  

Perguntar, aprender, vencer: mudando a norma da sala de aula  

Ao tornar o pedido de ajuda visível, esperado e celebrado como uma força, transformamos a sala de aula de um lugar de luta silenciosa em um espaço de aprendizado compartilhado. Os alunos deixam de ver a ajuda como uma dependência e passam a reconhecê-la como uma ferramenta poderosa para o sucesso.  

E quando essa mudança acontece? Eles não só fazem mais perguntas, como começam a respondê-las também. O aprendizado se torna colaborativo, a curiosidade floresce, e os alunos assumem o papel de tanto aprendizes quanto líderes.

Fonte: Portal Porvir - Cathleen Beachboard, do Edutopia

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